Três pelos de barba de milho

Foi num tempo em que as mulheres ainda tinham bigode, e os homens lhes davam pedagogia em bafaradas de tintol ao quartilho, da tasca da Marquinhas, que os pelos de barba de milho faziam as delícias fumarentas dos moços de todos os lugarejos.
Às escondidas, quando as moedas mingavam e o desejo de ter pintelhos nos tomates era mais forte que a resignação, íamos nós, ao campo que havia junto à igreja, na missão do dia, rapar umas espigas cabeludas, que mais tarde haveriam também de dar pipoca, se tivesse-mos sorte claro!

De bolsos fartos e passo acelerado, não fosse aparecer o lavrador, que não era o “5 croas”, buliamos até ao quartel general, às vezes em cima duma árvore, noutras debaixo do mato desgrenhado que havia no quintal do Leonardo, atrás da carpintaria.

Depois era o fartote, jornal, três barbas e um fósforo gamado e lá vinha, pensávamos nós, a idade adulta e os pintelhos em bafos que rasgavam a garganta e faziam saltar os olhos das órbitas. Era bom e mau ao mesmo tempo, como quase tudo naquela altura.

Se fosse hoje, o milheiral tinha um nome diferente, daqueles de Startup, as espigas vinham com barba à parte e porta usb e os alphas encomendavam-nas pela internet, mas continuavam a ter de se resignar por ainda não terem pintelhos nos tomates, ou mandaram vir também pela internet, quem saberá!